"Aquele que sabe ensina aquele que não sabe" - Obrigada, Amilcar Cabral
Hoje, 20 de Janeiro, dia dos Heróis Nacionais de Cabo Verde, é um dia de reflexão, de recordações e de balanço.
Pelo menos duas vezes por ano, vem a memória do nosso Herói Amilcar Cabral e os ideais com que lutou pela nossa libertação, até à caixão.
Cabral defendia que a Educação é a nossa principal arma para a Libertação: "Aquele que sabe ensina aquele que não sabe".
Eu tenho aquele orgulho de ter nascido cabo-verdiana, numa nação independente e com identidade.
A minha geração, os filhos da Nação Independente de Cabral, cresceu a conjugar o verbo ser, na primeira pessoa do plural.
Nós somos um povo batalhador.
Nós somos vencedores.
Nós somos criativos.
Nós somos humildes.
Nós somos resilientes.
Nós somos independentes.
Nós somos livres.
O verbo ter vinha em segundo plano: Nós temos garra. Temos ambição. Temos fé. Temos identidade própria.
Daí que a falta de recursos naturais seria rapidamente substituída pelo capital humano. Assim acreditou Amilcar Cabral e foi essa a mensagem que me foi incutida e que me acompanha na minha caminhada.
Apostou-se tanto na Educação, que começou a dar frutos com uma celeridade admirável. Quando cheguei a Portugal, na metade do ano lectivo 1983/84, vinda da ex-colónia que apresentava uma taxa de analfabetismo superior a 60% no ano da independência, 1975, fui uma das 6 alunas seleccionadas para corrigir semanalmente os ditados da língua portuguesa, dos restantes colegas, todos lusitanos.
Já na entrada ao ensino superior, vinte anos após a independência de Cabo Verde, não escondi a minha satisfação e orgulho enormes, ao constatar o nível de preparação que trouxeram os meus colegas, formados no Liceu em Cabo Verde.
O nosso povo sempre conheceu dificuldades e, por essa razão, habituou-se a tirar de dentro de si, força para supera-las. Todos os anos, semeia-se o solo acreditando que não será mais um ano de seca. É um povo que tem fé. É um povo que manifesta.
Eu agradeço profundamente a Amilcar Cabral por me ter proporcionado uma identidade. Sou orgulhosamente Africana, de Cabo Verde.
Somos um povo africano com genes de todo o mundo e isso deve ser motivo de orgulho. A nossa "lingua" materna é o crioulo, sendo o veículo que deve promover a nossa força e união.
Eu penso em crioulo. Por aceitar as minhas raízes, é-me mais fácil adaptar a outras realidades. Por aceitar o crioulo como meu, é-me mais fácil falar várias línguas estrangeiras.
Onde quer que vá, por este mundo fora, levo Cabo Verde comigo e apresento a minha Nação a todos os cantos, mesmo aos mais recônditos. Eu não tenho o dom da nossa Diva Cesária Évora, mas tenho o dever de desenhar Cabo Verde no mapa.
Sinto-me triste de já não conseguir mostrar o mesmo orgulho quando falo da minha terra aos povos estrangeiros. Sinto-me triste por termos substituído o verbo ser por ter. E por termos substituído a primeira pessoa do plural por singular.
Sinto-me triste por assistir à curva descendente que o país atravessa, no que concerne aos ideais do nosso Herói Amílcar Cabral.
Mas prefiro acreditar que todos andamos esquecidos, por razões diversas, e muito em breve retomaremos os ideais da nossa Libertação.
Quero que voltemos a conjugar o verbo ser.
Quero que voltemos a ser livres.
Lisboa, 20 de Janeiro de 2019
Mapa dos países visitados por mim
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