Ela é daquelas pessoas que não quer ser. Ela é!

Conhecemo-nos num dia em que ela viveu uma situação que a deixou vulnerável. Como não me dou nada bem com injustiças, o meu coração acolheu incondicionalmente a boa energia dela, mesmo em estado de desejar desaparecer dali. 

Naquele restaurante quase com tanta classe como ela, manteve a postura, o conveniente "para inglês ver", à excepção da falta de apetite, que não se preocupou em esconder. Até que, finalmente, nos vimos a sós e a máscara caiu.


A sandália dela, que encaixava perfeitamente na indumentária saída de filme, de tão singular como invejável, foi a protagonista que nos provocou a criação do laço, que jamais deixámos partir, desde então. 

Em resposta ao meu elogio, aquele inesperado e delicioso "comprei-as na Maria Bonita, uma loja em Almada" desencadeou uma sequência de descobertas de amigos e hábitos comuns.

Ela é daquelas pessoas que não quer ser. Ela é!

A nossa ligação tornou-se forte, de tão autêntica. Nunca precisámos usar filtros ou colorações.

Tinha 31 anos quando aterrei em Maio de 2008 em Luanda, aquela idade em que já não se é verde a nível profissional, nem suficientemente jovem ou madura.

A presença dela, mulher viajada, jovial, aventureira, madura, culta, de bom trato, mãe como não existe igual (assume espontaneamente o papel de mãe protectora, na vida de muitas pessoas que aparecem no seu caminho) influenciou-me bastante e positivamente nessa década tão importante da minha vida.

Com ela aprendi a ser mais autêntica. A admirar detalhes simples e que contam. 

A primeira vez que visitei o Lobito e a Restinga, foi na companhia dela e da filha, da minha idade. Foi um privilégio receber, em primeira mão, ao lado da filha, os testemunhos, as estórias e as memórias da adolescência dela nesse sítio carregado de amor. Cada porta, cada canto da casa ou do quintal, cada detalhe tinha material que dariam um livro. 

Com ela aprendi a sentir-me dona de mim, em vestidos largos e com bolsos. Ela não tem a mínima ideia, ou talvez desconfie, mas influenciou-me bastante na minha forma de vestir, onde o conforto impera, sem abdicar da classe. 

Passamos tempos sem nos vermos, mas a ligação continua. Quando nos reencontramos, vivemos mais um momento autêntico, dos nossos. O tempo voa e não nos damos conta do mesmo.

Com ela conheci artistas emergentes angolanos, muito antes de se tornarem conhecidos a nível nacional e internacional. 

Com o marido, dois apreciadores, conhecedores e coleccionadores de arte, construiu uma galeria privada em casa, com a variedade e quantidade de obras que muitas galerias invejariam. 

Com ela agucei o meu apetite insaciável por viagens e pela descoberta do desconhecido e do menos óbvio.

Com ela viajei a vários sítios longínquos e pouco visitados, através das memórias partilhadas comigo, onde os olhos brilhavam enquanto falava de aventuras e situações únicas vividas. 

Com ela aprendi a comemorar o aniversário às 0 horas e não esperar o amanhecer para me sentir aniversariante e agradecer por mais uma volta ao sol. 

O dia 19 de Dezembro é o dia dela! 
Este, 19-12-19, uma data ainda mais especial! 
A data em que completa 60 anos de sabedoria, amor, vivências e partilhas.
Sinto-me privilegiada por testemunhar estes 60 de muito amor!


Foto: © Ludmila Tolentino

Ela é daquelas pessoas que não quer ser. Ela é!


Convido-os a seguirem este ser de luz:
Instagram: Lurdes.bras.oliveira

Comentários

Mensagens populares