O Toque: da origem à manifestação



Em 2008, ano em que fiz mais uma mudança geográfica na minha vida eu era daquelas que pensava na massagem como um luxo, para se fazer de vez em quando. Não captava a profundidade da coisa. 

A amiga Lurdes introduziu-me esta arte com aquele ângulo que me permitiu ver, sentir e vivenciar a massagem como uma necessidade para o bem-estar e equilíbrio.

Encaminhou-me à Canti, masso-terapeuta do Sri Lanka, cujo sorriso de boas-vindas já me tirava metade do stress que o meu corpo carregava sempre que chegava à sua beira. Aquelas mãos, energia e habilidade proporcionavam-me uma viagem semanal ao fundo do meu Ser de onde não queria sair sempre que terminava a sessão. Ficou-me o bichinho de explorar Sri Lanka.

A partir de 2010, as terças-feiras eram dedicadas à harmonização dos corpos físico, mental e espiritual, mas em ambiente caseiro. A Canti tratava da Lurdes nas manhãs e de mim nas tardes. Lembro-me de tantas vezes que a Canti saía da minha casa deixando-me envolta num sono profundo. 

Cada vez mais, a massagem estabelecia uma comunicação mais profunda e fidelizada com o meu Ser. 

Cada dia descobria mais de mim. 

Cada momento descobria mais uma célula adormecida. 


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No regresso a casa da primeira parte da viagem de mochila pelo mundo, escolhi Roma como último ponto. A amiga Lígia acolheu-me de forma calorosa e vibrante na casa dela, naquele verão atípico em Dezembro do ano 2012.

Essa viagem que começou na véspera do novo ano chinês foi um marco na minha vida e o ano 2012 um presente do Universo. Em Bali, o Roberto Uding proporcionou-me o mergulho profundo pelo yoga, num retiro de um mês, cuja metamorfose em vésperas de completar 36 anos me dotou da habilidade de praticar a minha própria yoga em qualquer cenário natural ou urbano. Descobri nesse mergulho que, afinal, a minha meditação favorita era o mergulho que praticava desde 2007, chegando o instrutor que me certificou para o nível avançado PADI a afirmar que eu era peixe, pois terminava os meus mergulhos com quase metade da garrafa cheia. Na realidade, a minha relação com tubarões é para lá de especial, mas isso será assunto para uma crónica específica à minha segunda casa: o mundo sub-aquático.

Voltando a Roma, caminhava pelas ruas de Trastevere quando me deparei com uma loja nepalesa de produtos holísticos. Caminhei directa e instintivamente para as taças tibetanas. O senhor nepalês veio ao meu encontro logo que se apercebeu da minha conexão com aquele instrumento holístico. 

No imediato partilhou comigo o seu saber sobre as taças tibetanas, testando-me com exercícios que, segundo ele, é raro corresponder de forma tão habilidosa no primeiro contacto. Não percebia qual dos dois estava mais entusiasmado com aquela sinergia, que durou mais de 2h. 


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Ao contrário da dificuldade que a maioria das pessoas comentava, o ano de 2016 estava a ser abundante e mágico para o meu Ser que o reconhecia a cada manhã. Foi o ano em que me despedi dos intas e entrei nos entas, em final de Outubro. 

2016 foi um ano de Movimento. Iniciei o ano a desfilar euforia no carnaval do Mindelo em Cabo Verde; passei 3 meses na capital Sul-Africana, onde tive a oportunidade de fazer um voluntariado com crianças em Soweto, do qual nasceu uma exposição fotográfica "I See them blossom", participei na viagem de resgate das raízes africanas "Roots Reconnection Trip" organizado pelo Roberto, onde explorei as gentes de Togo, Benin e Costa do Marfim.

A quinze dias de abraçar os 40, soube de um "Festival Zen" em Tavira. Levei não mais do que trinta minutos para decidir e rumei sozinha para passar essa noite em Tavira e desfrutar do festival dono de um cartaz imperdível que iniciava no dia seguinte. Tavira recebeu-me de forma calorosa e poética: fui acolhida numa guesthouse que homenageia Fernando Pessoa de todas as formas. As mensagens chegavam até mim de todos os cantos. 

Foi nesse festival que tive o contacto mais profundo com a Ayurveda, ciência da longevidade, pelas mãos de Michele Pó. Não mais parei de explorar essa ciência da vida com que tanto me identificava. Longevidade fazia-me naturalmente associar ao avô Fidjin (93 anos). E à prima-avó Susana (100 anos), prima-avó Guigui (com 102 anos), primo-avô Guilherme (98 anos) e primo Lando (com 99 anos), três irmãos e sobrinho que amadurecem sem rugas, com uma pele invejável.

O festival que apresentava todas as formas holísticas, incluindo a descoberta fascinante do Human Design pelas mãos da designer Cristina Oliveira, foi um bálsamo em todos os sentidos. Todos falavam na mesma língua que eu e ganhei um leque de potenciais parceiros num futuro a médio prazo. 


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Não fugindo à tradição, faltavam apenas 3 ou 4 dias para a partida, quando decidimos o destino da viagem de aniversário: finalmente, a tão desejada Sri Lanka. A tia Alice e eu cumpríamos a tradição de passarmos os nossos aniversários num país desconhecido para ambas, onde pudéssemos praticar o mergulho não só nas profundezas dos mares de Yemanjá, mas também na natureza virgem e no interior de nós mesmas. 

Completei a 40ª volta ao Sol no norte do Sri Lanka, no dia 28 de Outubro de 2016. Num sítio mágico, zen e rodeado pela mãe natureza, de onde recebi a maior notícia vinda das Europas: a minha sobrinha Lana resolveu presentear-me com seu nascimento no mesmo dia 28. Inevitavelmente, fiz aquela continha de aritmética, teria 60 anos quando ela completasse os seus 20 aninhos.

No dia seguinte, em viagem de 4 horas para o sul, o destino levou-nos a um "Space Garden" a meio caminho. É um lugar sagrado onde cultivam uma infinidade de plantas medicinais através das quais preparam os óleos e produtos para massagem ayurvedica. Cada planta é aplicada para um desequilíbrio do corpo físico. Ficou-me em mente um ananás de cor vermelha, de onde produzem o óleo aplicado para enxaquecas. 

Nesse Space Garden foi-me apresentado a planta que cura as varizes. Nesse instante, todas as minhas antenas accionaram. Quando o médico ayurvédico me examinou sem mesmo colocar as mãos sobre as minhas pernas, identificou as varizes internas que à vista do leigo estão completamente invisíveis. 

- Tenho a cura para o seu desequilíbrio - disse-me com tranquilidade e segurança - São dois produtos da mesma planta, que vai usar durante 60 noites em auto-massagem às suas pernas, antes de dormir. Se seguir o tratamento completo, garanto-lhe que as varizes vão desaparecer.

Naquele instante, olhei para a minha tia e pensei: não tenho nada a perder. Adquiri os meus produtos e iniciei a minha viagem de auto-descoberta nessa mesma noite. 

O desequilíbrio das varizes manifestou-se em Angola, naquela época em que eu me havia colocado em segundo plano, para agradar a todos. Claro que o fazia de forma inconsciente. Foi o preço de me ter abandonado ao azar.

- É irreversível. Não tem cura. É crónico. Vai tomar "daflon" para a vida toda - foram as palavras condenadoras do médico que me diagnosticou pela primeira vez em Lisboa, que eu rejeito quando alguém que não seja o meu Eu tenta menosprezar o meu templo, que é o corpo que a minha alma concebeu e que sabe perfeitamente das medicinas nele contidas. A situação não estava simples, é verdade, mas eu acreditava que haveria de dar a volta nalgum momento apropriado. Bastava-me a confiança em mim, na vida e no meu templo.

Das 60 noites de tratamento, apenas falhei uma, por a ter passado em viagem longa de avião. Fiz todo o processo de auto-cura em pleno movimento, por diferentes coordenadas e culturas, finalizando o meu ano 2016 viajante.

Percorrida metade da minha viagem de auto-descoberta através da auto-massagem que me proporcionava a auto-cura, percebi que já teria muito menos varizes, pois as pernas voltavam a mostrar-se tonificadas e leves como dantes. 

Um dos pilares da Ayurveda é a massagem, sendo a auto-massagem um ritual natural e diário como a lavagem dos dentes. O meu ritual de cura proporcionou-me uma auto-confiança incrível (estava mesmo convencida que estava a curar-me) aumentou-me o amor-próprio e fez-me descobrir curiosidades do meu Ser através do meu corpo. Através do meu auto-toque.

Quis a ironia do destino colocar a médica que me quis operar 3 anos antes, na linha da frente para realizar o exame "eco doppler" que viria a confirmar de forma oficial e científica, o que eu já havia encontrado de forma intuitiva: as varizes evaporaram!



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A auto-cura devolveu-me a juventude. Os meus 40 representavam o resgate dos meus 25. Resgatava a energia e a liberdade dos meus 25. Já podia praticar novamente todo o tipo de desportos. Regressava ao combustível que me move: o Movimento!

No segundo semestre de 2017, rumei novamente para uma segunda temporada na Colômbia e comecei a ter uma relação muito próxima com cristais. Cada esquina oferecia cristais de todos os tipos. Assim, de uma forma natural e expontânea, fui mergulhando no mundo mineral que, curiosamente, não era do meu agrado quando estudava no liceu. Vim a descobrir que, no final do dia, toda Eu era conectada com o mundo mineral.

Numa das visitas a Lisboa, fui direccionada para o Imalaah Bee Temple, em Dakar, antes do meu regresso à Colombia. O Imalaah é um centro de terapias ancestrais africanas, fundada por Avelina Merkel há mais de 20 anos. Lá, completei o resgate das raízes africanas que iniciei na Colômbia em 2013, numa viagem sem orientações externas, mas sim através da bússola que acedia no meu interior, aquela ligação directa que nos transporta para a nossa essência.

Em Agosto de 2019, no meu regresso de Colômbia a Lisboa, caí de pára-quedas no ensinamento Técnicas Manuais e Energéticas Africanas de Avelina. Esse ensinamento dotou-me de clareza que me permitiu juntar as peças do puzzle que havia coleccionado ao longo dos últimos 7 anos. Consegui, finalmente, visualizar aquela que seria a minha manifestação no mundo das terapias e que assumia o binómio Arte & Ciência, aliada ao movimento das viagens. Ainda me lembro como se fosse hoje, da descoberta do que as minhas mãos eram capazes, através daquele "empurrão" da Avelina que provoca em nós a auto-descoberta.

Assim, enraizei o movimento nagoia, o seu conceito e os seus pilares. Enraizei na ação. E na ação fui descobrindo cada vez mais detalhes desse movimento único que surgia da minha essência. O movimento nagoia abraça técnicas e tradições ancestrais vivenciadas ao vivo e a cores com as tribos africanas e indigenas da America Latina, bem como técnicas que me chegam através da minha ligação directa à sabedoria e inspiração universal. Todas são previamente testadas e vivenciadas na primeira pessoa antes de partilha com o próximo. 


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Em Abril de 2020, em plena pandemia, recebia das mãos da amiga Lurdes, o presente mais especial. 

A marquesa que ela tinha em Angola, que a Canti usava para lhe dar as massagens. Recebi a marquesa que muitas vezes me serviu de leito para viajar no meu interior. E agora iria facilitar essa viagem a outros irmãos de alma. 

A massagem energética africana é usualmente dada no chão, em que a terapeuta se coloca na posição de cócoras. Assim fiz durante vários meses, proporcionando-me força, foco e flexibilidade. 

Passar para a marquesa a tempo inteiro trouxe-me a nostalgia associada aos tempos de descoberta da massagem frequente em Luanda, bem como a magia da sábia Lurdes, a ponte do meu encontro consciente com a massagem.

A marquesa chegou em boa hora para proporcionar o "toque Nagoia" à família com quem partilhei o primeiro confinamento, indo de encontro ao trabalho de comunidade que estendemos pela árvore ancestral.


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Em Janeiro deste ano mestre 2022, vim a Luanda em missão de tríade do Imalaah Bee Temple. 

No mesmo dia, liguei à Canti para saber se ainda estaria por cá e se conservava o mesmo número. Não só mantinha a sua folga à terça-feira, como se lembrava perfeitamente de mim. 

Receber uma massagem das mãos da Canti, passados tantos anos, e estando eu na qualidade de massoterapeuta como ela, foi uma sensação incrível e profunda. Ela conseguiu proporcionar-me uma viagem profunda como no antigamente e harmonizar-me para as sessões que me aguardavam como terapeuta com as almas irmãs de Luanda.



Luanda, 2 de Fevereiro 2022

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