A loucura do futebol (Bogotá, Colômbia)

Já vos havia dado um cheirinho no meu post
http://nagoia.blogspot.com/2013/08/retrato-de-bogota-com-lentes-crioulas.html
como os colombianos vivem o futebol. Tudo pára.


A dois meses do Mundial 2014, a coisa parece começar a entrar em ebulição. O meu curso, aos sábados, foi programado terminar no dia 7 de Junho, para que ninguém perca nenhum jogo daquele campeonato que move Planetas.


Já há alguns meses, começaram a vender as camisolas das selecções do mundial, na rua, por apenas 5 euros. Uma vez até me perguntei se, caso a Federação Caboverdiana de Futebol não tivesse sido protagonista daquele "episódio" de secretaria, e estivéssemos nesta Copa, teria a alegria de ver a camisola da minha selecção nas ruas de Bogotá, ao lado de camisolas do Brasil, Argentina, ou Portugal.


Panini é, desde inicio de Abril, uma das palavras que mais se ouve pelas ruas, restaurantes, tabacarias e outros cantos de Bogotá. Para os menos interessados pelo futebol, estou a falar do álbum oficial de cromos da Copa 2014. Sim, estou a falar de autocolantes, um dos nossos vícios, quando éramos (?) crianças.






Todos os Bogotanos estão a fazer a colecção, não importa a idade ou género. Aquilo a que estamos habituados na nossa infância, de repente invade-nos com a mensagem de que tratemos de aproveitar a magia dos cromos porque ainda somos miúdos.




Graúdos, senhoras, crianças, todos correm atrás dos cromos de futebol. O neto, a prima da sogra, o irmão do vizinho, o pai do afilhado, a filha do chefe, a cunhada do tio,  amigo da madrinha, o cão, o gato e o coelho. Enquanto o diabo esfrega um olho, abre-se um mercado de enormíssimo lucro, com as trocas dos cromos repetidos e a venda de cromos "valiosíssimos". A competição é enorme, todos querem completar o album primeiro.


Há umas semanas, quando esperava a minha vez para recarregar o meu telemóvel, apreciava a eficiência de uma senhora, dos seus quarenta e muitos, que tinha uma lista em excel, dos cromos que ainda lhe faltam e outra com os repetidos. Tinha lá ido trocar ou comprar/vender cromos.



Como a minha estupefacção já ultrapassava a linha vermelha, perguntei ao vendedor da tabacaria, porque é que está a ser uma febre, esta colecção de cromos.

Vendedor - Todos os mundiais é assim! Eu já completei 14 cadernetas deste mundial. - disse-me, todo orgulhoso e com a certeza de que ainda não foi a ultima.

Eu - 14?! - perguntei-lhe com a expressão mais incrédula do que a que usei quando me apercebi que os meus amigos, não colombianos, também aderiram a esta moda.

Vendedor - Pois, vendo-os completos. A 300 mil pesos - remata, com os olhos a brilhar e a ostentar o cifrão, como os do Tio Patinhas

Nao pude emitir mais nenhuma reacção. Cento e cinquenta dólares por uma caderneta com cromos! E existe mercado!




No mesmo dia, quando chegava a casa depois de um dia normal de trabalho, o meu companheiro de casa recebia-me com uma caderneta Panini e uma mão cheia de cromos desejosos para saltar lá para dentro.


Eu - Até tu? 
Ele - Por supuesto! Eu até queria fazer esta colecção nas calmas, mas a malta está feroz, super adiantada. Tenho que correr!...






Bogotá, 15 de Abril 2014

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