2 V: Vai e Volta (Hawaii, Setembro 2012)

Há um ano atrás, eu e a Vera estávamos a aproveitar Honolulu, quando decidimos ir à descoberta da "Big Island" Hawaiana.

No aeroporto de Honolulu, fizeram-me uma inspecção tremenda no raio X. Pegaram no meu líquido das lentes de contacto (cuja embalagem tinha os 100 ml permitidos), abriram, cheiraram a espuma, enfim, parecia que eu transportava algo que fizesse mossa. 

Fizeram-me retirar quase tudo o que tinha na minha pequena mochila de 20 litros. Depois do aval, já eu estava para lá de desconfortável com a situação, quando me dei conta que havia guardado tudo na mochila, trancado com cadeado e havia-me esquecido do mais importante: o meu ipad. Aquele "gadget" que acabou por se tornar num dos meus melhores amigos, durante mais de 9 meses de viagem.

Peguei no tablet, pu-lo debaixo do braço e fui directa à casa-de-banho. Quando o colocava em cima do dispensador de papel higiénico, pensava eu "ainda me vou esquecer de ti"...

Na descolagem, veio a terrível lembrança: "não me lembro de ter guardado o ipad na mochila!".

Mal o sinal do cinto de segurança tenha apagado, dei um salto, abri o porta-bagagem, peguei na mochila e não foi preciso abri-la para confirmar a suspeita. Havia deixado o tablet na casa-de-banho das partidas domésticas do aeroporto de Honolulu.

Só pensava nos milhares de fotografias que tinham ido à vida.

Foi das viagens mais compridas, ainda que a duração fosse de pouco mais de uma hora. Ansiava aterrar e ligar para o aeroporto.

Levei dois dias a ligar para um suposto número de perdidos e achados, sem sucesso. Até que me atenderam e me facultaram o número correcto.

Foi a conversa telefónica mais engraçada dos últimos meses. O senhor do lado de lá da linha perguntava-me pelo código de segurança do meu ipad, pois havia lá muitos aparelhos e precisava ter a certeza de que era o meu. Por um lado, sentia uma alegria enorme pela possibilidade de o meu ipad lá estar; por outro, a impotência associada à distância das duas ilhas fazia-me temer ainda mais a perda do equipamento, depois deste telefonema.

Conseguia imaginar a cara do fulano, a esfregar as mãos diante do tesouro, que seria dele com a informação do código.

Reflecti por uns segundos e tomei a decisão de desvalorizar e informar que afinal esse não deveria ser o meu ipad e que talvez o tivessem levado. O que eu precisava realmente era que o senhor desvalorizasse e esquecesse o meu equipamento, até ao final do dia seguinte, em que eu aterraria nesse aeroporto.

Mal tirámos a bagagem, eu e a Vera corremos para os perdidos e achados. Apanhámos outro senhor, este muito simpático e correcto. 

Em menos de 2 minutos, tinha o meu ipad nas mãos, outra vez.

A Vera só repetia, "és uma mulher de sorte"  







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