E assim se chega ao fim do mundo - Viver Patagonia, Parte 2
O dia da mentira, 1 de Abril, parecia-me perfeito para aterrar no fim do Mundo. Mal pus a cabeça fora do avião, pude sentir o fresquinho que afinal fazia as honras da casa na Patagonia (estavam cerca de 1 a 2 graus, no inicio do Outono).
Inicialmente, tinha programado descer de El Calafate ate a Tierra del Fuego de bus / barco, mas incompreensivelmente, uma viagem que leva 18 horas cansativas ("n" mudanças de transportes durante o trajecto e horas a fio despendidas com as chatices burocráticas de 4 fronteiras, 2 argentinas e 2 chilenas) custa apenas menos 12 pesos argentinos (cerca de 2 euros) do que o voo de 1h30. A acrescentar ao facto de poder coleccionar mais umas milhas. Nestes casos, somos obrigados a juntar o útil ao agradável.
O aeroporto de Ushuaia, rodeado de montanhas, e' o primeiro Spot daquela cidade magica.
Mais uma vez, dava um tiro certeiro sem querer: chegava na véspera do aniversario do termino da guerra das Ilhas Malvinas, a presidenta Cristina chegaria a Ushuaia no dia seguinte, para as comemorações.
Fazia o checkin no hostel Cruz del Sur (hostel independente, com uma atmosfera contagiante, muito familiar) ao mesmo tempo que a Marina, do Porto lusitano, engenhocas como eu, que também largou tudo e fez-se a America do Sul sem medos. Foi a minha companheira de bússola no fim do mundo.
Nada como aproveitar todos os minutos, pensávamos nos, quando decidimos lançar-nos logo a seguir ao checkin, 'a aventura da Laguna Esmeralda, cujas fotos de paisagem-paraíso inofensiva nos hipnotizavam. Sao 1:30 de caminhada, muito fácil, convenceu-nos o dono do hostel.
De facto, toda a paisagem parecia um quadro sonhado por um artista plástico com imaginação muito acima da media. Depois de atravessarmos um bosque lindíssimo, entramos num vale nao menos incrível, ate chegarmos a cereja no topo do bolo, a bela da Laguna Esmeralda, um misto de vários sentimentos, ao vivo e a cores. Chegar a Laguna e matar a sede com aquela agua puríssima e' daqueles eventos que ficam na nossa memória.
E' claro que nada nos e' oferecido assim, de bandeja! Ate chegarmos a esta preciosidade, andamos pela lama, vezes houve em que a mesma chegava quase aos joelhos. Houve que "atravessar" vários pântanos e, sempre que eu me sentia minimamente confortável, com fortes indícios de já ter os pés quase secos, repetia o obstáculo tão molhado como gelado.
Por outro lado, a 1h30 de referencia foi, na realidade, 2h30. Engraçado foi ouvir no dia seguinte, um guia avaliar a trilha para a Laguna Esmeralda, de difícil e só acessível aos mais destemidos.
Como e' da praxe, fizemos a travessia do canal Beagle no dia seguinte. Com um frio que nao se podia, saiamos timidamente para o convés do catamara, para conviver com os pinguins que ainda nao tinham migrado para o Sul do Brasil, com os leões marinhos e também com os "parecidos com pinguins" na ilha dos pássaros. E, claro esta, para registar a foto-postal do fim do mundo: o farol.
Mas o mais inesperado do dia foi a curta estadia na "Estancia Haberton", onde pudemos viajar no tempo, nesse lugar para lá do fim do mundo, cheio de história. Destaque para o museu de mamíferos marinhos, também centro de pesquisa, que acolhe estudantes de mestrado e/ou doutoramento de varias partes.
Regressamos a Ushuaia por terra, um trajecto lindíssimo, onde a maior sensação foi a arvore bandeira (um dos ícones de Ushuaia, os ramos desta arvore deitam-se horizontalmente, soprando em uníssono com o vento) antes do Lago Escondido.
O dia foi suficientemente inspirador, para que nos lançássemos de corpo e alma ao trofeu "cordero patagonico", assado quase na vertical, numa estrutura em forma de cruz. Uma delicia de comer e chorar por mais. Nao posso e' chama-lo de borrego, caso contrário, tudo estragado!
O terceiro dia, dono de um sol fantástico e sem nuvens, foi dedicado ao Parque Nacional. Uma caminhada de 3,5 horas foi inaugurada pela compania de um par de golfinhos que surpreendentemente, brincavam na baia. Nada comum, soubemos mais tarde. Mais uns quantos passos e tínhamos a companhia de cavalos donos de si, no seu habitat, sem trela, selim, ferradura e outros acessórios prisioneiros normalmente colocados pelo homem. A cada curva, a cada subida ou descida, atravessando bosques ou vales, ou seguindo a costa, a paisagem era mais linda do que a anterior.
Para provar que em Ushuaia se sentem as quatro estações num mesmo dia, no final da trilha, houve um aviso muito esclarecedor de que era tempo de voltar para o conforto do hostel, para o ritual do mate, antes do jantar de despedida da Viviana, do Uruguai. Assim, com quase nada e um pouco de tudo, cozinhamos o que para nos foi um belo manjar dos deuses: frango com grão e arroz com legumes e açafrão. E uma garrafa de vinho para temperar o nosso paladar.
O ultimo dia, de chuva e frio, passamo-lo a relaxar. Também e' preciso! Havia que começar a estudar os próximos destinos (Bariloche para mim, El Calafate para a Marina).
Deixamos o fim do mundo sem eu me ter caído em mim...
Inicialmente, tinha programado descer de El Calafate ate a Tierra del Fuego de bus / barco, mas incompreensivelmente, uma viagem que leva 18 horas cansativas ("n" mudanças de transportes durante o trajecto e horas a fio despendidas com as chatices burocráticas de 4 fronteiras, 2 argentinas e 2 chilenas) custa apenas menos 12 pesos argentinos (cerca de 2 euros) do que o voo de 1h30. A acrescentar ao facto de poder coleccionar mais umas milhas. Nestes casos, somos obrigados a juntar o útil ao agradável.
O aeroporto de Ushuaia, rodeado de montanhas, e' o primeiro Spot daquela cidade magica.
Mais uma vez, dava um tiro certeiro sem querer: chegava na véspera do aniversario do termino da guerra das Ilhas Malvinas, a presidenta Cristina chegaria a Ushuaia no dia seguinte, para as comemorações.
Fazia o checkin no hostel Cruz del Sur (hostel independente, com uma atmosfera contagiante, muito familiar) ao mesmo tempo que a Marina, do Porto lusitano, engenhocas como eu, que também largou tudo e fez-se a America do Sul sem medos. Foi a minha companheira de bússola no fim do mundo.
Nada como aproveitar todos os minutos, pensávamos nos, quando decidimos lançar-nos logo a seguir ao checkin, 'a aventura da Laguna Esmeralda, cujas fotos de paisagem-paraíso inofensiva nos hipnotizavam. Sao 1:30 de caminhada, muito fácil, convenceu-nos o dono do hostel.
De facto, toda a paisagem parecia um quadro sonhado por um artista plástico com imaginação muito acima da media. Depois de atravessarmos um bosque lindíssimo, entramos num vale nao menos incrível, ate chegarmos a cereja no topo do bolo, a bela da Laguna Esmeralda, um misto de vários sentimentos, ao vivo e a cores. Chegar a Laguna e matar a sede com aquela agua puríssima e' daqueles eventos que ficam na nossa memória.
E' claro que nada nos e' oferecido assim, de bandeja! Ate chegarmos a esta preciosidade, andamos pela lama, vezes houve em que a mesma chegava quase aos joelhos. Houve que "atravessar" vários pântanos e, sempre que eu me sentia minimamente confortável, com fortes indícios de já ter os pés quase secos, repetia o obstáculo tão molhado como gelado.
Por outro lado, a 1h30 de referencia foi, na realidade, 2h30. Engraçado foi ouvir no dia seguinte, um guia avaliar a trilha para a Laguna Esmeralda, de difícil e só acessível aos mais destemidos.
Como e' da praxe, fizemos a travessia do canal Beagle no dia seguinte. Com um frio que nao se podia, saiamos timidamente para o convés do catamara, para conviver com os pinguins que ainda nao tinham migrado para o Sul do Brasil, com os leões marinhos e também com os "parecidos com pinguins" na ilha dos pássaros. E, claro esta, para registar a foto-postal do fim do mundo: o farol.
Mas o mais inesperado do dia foi a curta estadia na "Estancia Haberton", onde pudemos viajar no tempo, nesse lugar para lá do fim do mundo, cheio de história. Destaque para o museu de mamíferos marinhos, também centro de pesquisa, que acolhe estudantes de mestrado e/ou doutoramento de varias partes.
Regressamos a Ushuaia por terra, um trajecto lindíssimo, onde a maior sensação foi a arvore bandeira (um dos ícones de Ushuaia, os ramos desta arvore deitam-se horizontalmente, soprando em uníssono com o vento) antes do Lago Escondido.
O dia foi suficientemente inspirador, para que nos lançássemos de corpo e alma ao trofeu "cordero patagonico", assado quase na vertical, numa estrutura em forma de cruz. Uma delicia de comer e chorar por mais. Nao posso e' chama-lo de borrego, caso contrário, tudo estragado!
O terceiro dia, dono de um sol fantástico e sem nuvens, foi dedicado ao Parque Nacional. Uma caminhada de 3,5 horas foi inaugurada pela compania de um par de golfinhos que surpreendentemente, brincavam na baia. Nada comum, soubemos mais tarde. Mais uns quantos passos e tínhamos a companhia de cavalos donos de si, no seu habitat, sem trela, selim, ferradura e outros acessórios prisioneiros normalmente colocados pelo homem. A cada curva, a cada subida ou descida, atravessando bosques ou vales, ou seguindo a costa, a paisagem era mais linda do que a anterior.
Para provar que em Ushuaia se sentem as quatro estações num mesmo dia, no final da trilha, houve um aviso muito esclarecedor de que era tempo de voltar para o conforto do hostel, para o ritual do mate, antes do jantar de despedida da Viviana, do Uruguai. Assim, com quase nada e um pouco de tudo, cozinhamos o que para nos foi um belo manjar dos deuses: frango com grão e arroz com legumes e açafrão. E uma garrafa de vinho para temperar o nosso paladar.
O ultimo dia, de chuva e frio, passamo-lo a relaxar. Também e' preciso! Havia que começar a estudar os próximos destinos (Bariloche para mim, El Calafate para a Marina).
Deixamos o fim do mundo sem eu me ter caído em mim...
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