16/04/2012 - Hola Santiago, la ciudad que vibra - Chile

No aeroporto Ezeiza, a funcionária que faz o filtro antes do balcão de checkin da Air Canada revistava o meu passaporte de tal forma que comecei a ficar incomodada. Folheava-o, virava-o do avesso, tocava-o, retocava-o.

Ate que deixei a paciência de lado e perguntei o porque de tanto rigor. "E' que ainda nao tinha visto o novo passaporte português, esta espectacular", dizia-me, enquanto mostrava 'a colega a pagina da identificação, deslizando os dedos suavemente no filme, como se de uma seda se tratasse. Bom, há gente para tudo, pensei eu...

As surpresas nao tinham ficado pelo checkin. A sensação de entrar no Boeing  767 da Air Canada foi como que de uma nave espacial se tratasse. Depois da TAP, TAM e LAN, o nível subiu em flecha. Onde a classe económica tem o conforto da classe executiva das anteriores (bancos super espaçosos, menos um por fila do que os habituais, uma panóplia de filmes nos écrans individuais, desde os mais recentes ate aos clássicos, como o Amelie). Daquelas viagens que apetece um pouco mais de duração, quando se aterra no destino pouco mais de duas horas depois. Ou então, desperta a curiosidade de ir ate Toronto e voltar. Porque nao?



Chegava a casa da Andrea (a minha amiga chilena que conheci na Bahia, minha companheira no Morro de Sao Paulo) pelas 20:00. As quatro aguardavam-me de braços abertos. Amanda,  filhota de 7 anos de Andrea; Penélope e Agatha, mae e filha de 10 anos, respectivamente. Fizeram-me sentir em casa, em menos de um segundo.

Depois de comermos e de pormos as meninas na cama, o trio foi confraternizar na sala, com um bom vinho e Jamiroquai, para começar. Daquelas coisas que eu gosto pouco, nao e'? 

E, claro, começaram a brincar comigo pelo sotaque "che" trazido da vizinha Argentina. Hay que cambiarlo, dizia eu. Actualizar o "chip", sempre, mas guardar o anterior ciosamente, esse e' o meu lema para desfrutar de um novo lugar, ao máximo.

Horas passavam sem darmos conta, pela bela conversa e também pelo vinho que entretanto já tinha sido substituído por outra garrafa.

Quase uma da manha estreava-me num evento energético da natureza que, emoções a parte, achei magnifico, único, vibrante. Pois e', Santiago achou que teria que me dar as boas vindas com toda a sua energia: um tremor de terra de 6.5 na escala de Richter. 

Inicialmente, ainda com uma vibração pouco significativa, pensava eu que se tratava do metro a passar (lembrei-me do cenário do cinema no Saldanha, em Lisboa). "No, es un temblor", dizia a Andrea, enquanto agarrava as taças de vinho que sambavam sobre a mesa, pois a intensidade aumentava mais do que muito.

Tudo vibrava. Moveis, loiças, tudo. Eu, fiquei em estado de "nao sei o que fazer, devo ir ao quarto das miúdas". Mas a Andrea e a Penelope já tem o checklist mais do que presente, sobre as acções a tomar. E assim faziam. Em segundos, faziam isto, aquilo e mais. As crianças acordaram com o tremor, claro. A Agatha, só queria saber de voltar a por a cabeça na almofada, perdida de sono. A Amanda, depois de a mae a tranquilizar "es solo un temblor, hija. És Chile, sabes que hay siempre, estamos acostumbradas, no? Se paso, hay que volver a dormir", perguntou "E Nadia, como esta?", preocupada com a visita que, ao contrário delas, nao esta habituada a viver tremores de terra como quem vai ao supermercado todas as semanas.

Voltamos a sala e ao vinho.

Andrea e Penelope diziam-me que actualmente havia tremores em Santiago, todas as semanas. Difícil de acreditar, nao e'?

E, de facto, pude ver que o prédio esta preparado para os sismos. Andrea revelou que no grande terramoto de 2010, viveram-no ali mesmo, na sala, debaixo da viga entre a sala e o corredor. Era impossível ficarem de pe.

Uma boa dica, para quem se interessar por um mestrado na área Sísmica. Santiago, the great place to do it. De repente, deu-me vontade de voltar a estudar. Engenharia Sísmica e Santiago, parece-me uma combinação perfeita.

Uma vez repostas as emoções, fomos dormir. Que recepção vibrante! Essa, nao mais a esqueço.

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