Valparaiso de Pablo Neruda - Chile

A apenas uma hora de bus de Santiago, fica esta maravilha de cidade. Na costa, onde os "cerros" vigiam o pàcifico.

Patrimonio Mundial pela Unesco, Valpo (como é carinhosamente conhecida) é comparada com Sao Francisco, mas eu prefiro partilhar o que senti, as boas vibracoes das colinas de Lisboa.

Fiquei instalada no Hostel Luna Sonrisa, no Cerro Alegre, que nao tera sido assim baptizado por acaso (onde estao os cafezinhos, bares e restaurantes mais aconchegantes).


Se me desafiassem a descrever Valparaiso numa unica palavra, nao teria duvidas de abusar de "Murais". Foi o que mais me chamou a atencao, durante os dois dias em Valpo. Alias, nao fazia outra coisa senao ir a descoberta de "n" murais que vomitam cor e contexto social. Um verdadeiro patrimonio, com tesourinhos expostos em cada esquina, porta, fachada ou a combinacao de todas as anteriores, em todas as ruelas e ladeiras dos cerros de Valpo.








No dia seguinte aguardava-me uma surpresa agradavel.

Subindo a Calle Hector Calvo, no Cerro Bellavista e em direccao a Casa Sebastiana (Casa-museu de Pablo Neruda), varias paragens, algumas fotos, etc, ate que algo me chama do interior do restaurante gourmet "Espiritu Santo".

E nao era a comida fabulosa...

Acabo de entrar e a Cize da-me as boas vindas com uma coladeira!

Tinha pensado comer qualquer coisa depois de visitar o museu, mas o convite da Cesaria Evora era irrecusavel.

Claro que causei sensacao, fui a primeira cliente conterranea da Cize, idolo incontestavel da dona do restaurante, uma elegante senhora chilena que passou grande parte da sua vida fora, nos Estados Unidos.

Decidi provar um prato tipico de Valparaiso, unindo o util ao agradavel: matar as saudades de um bom peixe fresquinho (pescado de roca arponeado en la bahia de Valparaiso con trigo mote, quinoa y salsa verde"). E, uma vez que a extravagancia ja estava garantida, fi-la como deve ser: reguei-a com um belo vinho tinto chileno.

Nem queria acreditar quando o prato me foi exposto sobre a mesa. De uma apresentacao compativel com o sabor delicioso e, quanto mais nao bastasse, muito saudavel.



É por estas e por outras que os momentos especiais nao sao programados e, quando o sao, estamos excessivamente cansados com tanta organizacao previa, que nem conseguimos estar atentos ao minimo pormenor que nos encantaria. Por isso, deixei de organizar a comemoracao do meu aniversario pois, apesar de o fazer com prazer, aquelas horas que seriam de prazer sao de estafa e quando dou por mim, os convidados comecam a ir embora. Fica aqui a deixa...

Entretanto, a Cize continuava o seu repertorio, fazendo-me sentir numa das minhas ilhas crioulas. Ate a morabeza parecia saltar do staff do restaurante.

Cerca de uma hora depois, o disco muda-se e fez-se silencio: Ana Moura brinda-nos com o fado.

Finalmente, chegava a vez de Pablo Neruda. La Sebastiana, a casa-museu do poeta é uma autentica viagem no tempo da poesia. Mal se ponha um pezinho na sala de estar, decorada exactamente como Neruda a desfrutava, sentimos uma inspiracao subita e um mar de ideias invade-nos a mente, saltitando com ansia de se verem materializadas em papel.

Situada no cimo do Cerro Bellavista, a casa de cinco pisos tinha uma vista de 180 graus sobre o Pacifico:

"El Oceano Pacifico se salia del mapa!
No habia donde ponerlo.
Era tan grande, desordenado y azul que no cabia en ninguna parte.
Por eso lo dejaron frente a mi ventana"



Cada piso tinha um ou dois compartimentos, no maximo. Mas parecia que a viagem com Neruda era mais intima, a cada piso subido. Neruda, aquele poeta que adorava o mar e a navegacao, mas confortavelmente a partir de terra firme.



"Na minha casa juntei brinquedos pequenos e grandes, sem os quais nao poderia viver.
O menino que nao brinca nao é menino. Mas o homem que nao brinca perdeu para sempre o menino que ele tinha dentro e que lhe fara muita falta.
Edifiquei a minha casa tambem como um brinquedo e brinco com ela de manha e de noite."




Segundo dizem os testemunhos, Neruda detestava comer sozinho, convidava sempre amigos de modo a formarem um agradavel grupo de meia-duzia de conviventes. A mesa do almoco estava sempre posta para os convidados e para os inesperados.

Tambem era um coleccionador nato:

"Quando queiras coleccionar algo, so tens que deseja-la intensamente e as coisas comecarao a surgir sozinhas. O primeiro a fazer é falar com todos, porque um coleccionador discreto nao prospera.
Todos me trazem garrafas, cachimbos, livros...
Quando pechinchar numa loja, pareca cansado, com vontade de dormir..."

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