Cabo Verde africano? (Janeiro 2013)

Em algumas ocasiões vi-me em debates entre cabo-verdianos, que dividiam uma polémica, que nunca consegui entender.

Para alguns, Cabo Verde pertence a África. Para outros, não.

O que é ser caboverdiano, afinal?

Para mim, Cabo Verde é Cabo Verde, acima de tudo.

Tenho orgulho de ter nascido caboverdiana, após a independência. O mesmo orgulho nutro por aqueles que, tendo nascido antes, lutaram com convicção pela nossa independência. Na minha interpretação, era sobretudo uma questão de identidade. E ela hoje existe, quer queiram alguns, quer rejeitem outros. Obviamente, necessita de limar umas arestas, como qualquer outra.

Cresci a sentir-me africana. Sem, no entanto, ter pisado o "continente" africano até à minha juventude. A minha referência vivida de Africa até então eram as 7 ilhas crioulas, que tinha pisado. E o Atlântico africano.

Nunca me senti europeia, apesar de ter vivido a maior parte da minha vida em Portugal, que será sempre a minha segunda casa. Pelo contrário, as raízes africanas foram fortalecendo a cada ano que vivia em Portugal e visitava mais cidades europeias.
Crianças cantando o hino nacional (Ilha de Sto Antão)

A minha primeira língua foi o crioulo. O chão que recebeu os meus primeiros passos foi o crioulo. Para não falar do ar que me ensinou a respirar.

Nasci em Santo Antão, aprendi as primeiras palavras e os primeiros passos na ilha Brava, preparei-me para a vida académica no Fogo, iniciei a minha actividade escolar no Sal, fiz metade da segunda classe em São Vicente e acabei o mesmo ano lectivo em Lisboa.




É por isso que me sinto caboverdiana. Tenho dificuldades em dizer de que ilha sou. Sou de Cabo Verde. Nos primeiros anos da minha vida experimentei cinco ilhas diferentes. E em cada uma delas deixei raízes e memórias.

Sinto-me africana e caboverdiana.

Em qualquer canto do mundo por onde passe, tenho orgulho em promover o meu país. Tenho orgulho em fazer o desenho para a maioria que nunca ouviu falar. Tenho orgulho em falar da nossa música e dos nossos artistas (músicos e não músicos). Tenho orgulho em dizer que não somos ricos em recursos naturais, mas fomos brindados com recursos humanos. Tenho orgulho em dizer que somos apenas meio milhão de habitantes. E que temos morabeza.




E não é por viver fora de Cabo Verde que me torno menos da terra. Está nas mãos de cada crioulo promover o seu país, à sua maneira. E, modéstia à parte, esforço-me para o fazer da melhor forma. Faço-o de coração.

Viva nôs terra! Tratemos de a cuidar!



Lisboa, 24 Janeiro 2013





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