O Paraiso existe: SEMUC CHAMPEY - Guatemala (27/07/2012)

A primeira vez que ouvi falar deste paraíso foi em Bariloche (Patagónia Argentina), quando uma peruana me intimou a não perder este spot, caso visitasse a Guatemala. Ficou anotado no meu bloco-notas virtual.

Entretanto, os guias não o têm como "hightlight"...

Estava em Antigua a organizar os meus dias seguintes, com o objectivo de seguir para Flores quando, ao passar por uma agência de turismo, vi que tinham transporte directo para Semuc Champey, entre outros muitos destinos.

Semuc Champey, pensei, este nome não me é estranho...

Comecei a pesquisar na internet e no meu guia "Central America on a shoestring", da Lonely Planet. Este último tinha apenas uma página dedicada a este lugar e não realçava grande coisa.

Mas valeram-me os locais, sempre que dizia pensar ir a Semuc Champey, arregalavam os olhos e rasgavam um belo sorriso, como quem fala de um verdadeiro paraíso. Na véspera da minha partida, encontrei a tal dica, no meu bloco-notas. Fiquei ainda mais excitada.

A viagem é tão cansativa como inesquecivelmente bela, devido aos inúmeros vales abusivamente verdes por onde passamos.

Demorámos cerca de 8 horas, de Antigua a Lanquin, numa carrinha "van" para lá de desconfortável (a partir da terceira hora, temos a impressão de estarmos sentados numa tábua e nem os traseiros naturalmente mais almofadados se safam). E não é directo, são 6 horas de Antigua até Coban, onde se muda de "candongueiro" e mais 2 horas de viagem até Lanquin. De Lanquin a Semuc Champey são mais 25-30 minutos terríveis e os menos afortunados vão sentados na caixa aberta, agora de uma carrinha.

E os últimos km´s (cerca de meia hora de viagem) são feitos em estrada de terra, bastante irregular. É uma tortura de viagem.

Mas quando chegamos ao PARAISO, TODO o sacrifício valeu a pena. 

Felizmente, vim sem reserva de alojamento. Sim, porque pude escolher o melhor sítio para ficar, no momento da chegada. O Hostal chama-se "El Portal" e encontra-se a poucos metros da entrada do Parque Nacional "Semuc Champey". Oferece bungalows para todos os bolsos de budget limitado, desde quartos partilhados, quartos privativos com casa-de-banho partilhada, ou quartos suite.

Paguei um valor pouco significante, num belíssimo sótão de um bungalow, com vista para o rio e com conforto acima do razoável. Mal entrei naquele que seria o meu cantinho nos próximos dois dias, fiquei intensamente preocupada, quando vi que a janela era uma entrada, sem vidro ou qualquer outro tipo de barreira. Imaginei logo o banquete que estava reservado aos mosquitos, nessa noite.

Enganei-me redondamente. Por vezes, existe a perfeição! Este lugar de sonho com o rio à mão e verde, verde a perder de vista, NÃO TEM MOSQUITOS.

Chegar a este paraíso e tomar um banho no rio de cor turquesa, aos meus pés (os bungalows encontram-se estrategicamente posicionados) é um daqueles spas grátis e indescritíveis.

Este hostal faz-me lembrar o "Flamingo Lodge", no Namibe (Sul de Angola), pela localização no meio do "nada", pelo facto de não ter energia eléctrica (apenas das 18h às 22h, para o pessoal carregar os seus pertences electrónicos), pela óptima comida, etc, mas com uma grande diferença: este oferece verde sem medos, um rio lindíssimo e transparente e sem mosquitos.

Os serões são passados a dançar ritmos latinos: salsa, bachata, merengue e um ritmo próprio de Livingston. 

Mas a cereja no topo do bolo é, sem dúvida, um tour-aventura para explorar Semuc Champey.

Começa-se com uma caminhada a subir uma montanha, até atingir um miradouro no topo, onde se fica literalmente hipnotizado com a vista sobre as 16 piscinas que compõem a ponte natural. Esta, rodeada de montanhas com uma vegetação densa. Uma brutalidade, parafraseando um amigo meu ao ver uma das fotos partilhadas em rede social.

A seguir, vem o divertimento: gozar as piscinas, passando de uma para outra, com adrenalina. Desde escorregando de traseiro, pulando e/ou passando de um lado para o outro, submergindo por cavernas.

De qualquer ângulo, se existe paraíso no nosso Globo, este é um deles. É uma infinidade de "uaus", sempre que se dobra uma "esquina" ou se atravessa uma piscina para outra.

Já levo mais de 6 meses nesta aventura e, sem dúvida, este é um dos lugares mágicos que me ficarão na memória e que serão responsáveis pelo meu regresso à Guatemala, no futuro.

Aqui fiz mais dois novos amigos, os italianos Sílvio e Vittorio.

Semuc Champey oferece adrenalina, para além de "limpar" a nossa retina. Saltar de uma ponte para o rio (cerca de 20-30 metros), fazer "river tubing" (deixar-se ir pela corrente do rio, cerca de um km, num pneu de borracha) ou visitar as grutas de água "K´an-Ba" (com a água pelo joelho e sem sapatos apropriados, ou lanternas de capacete, por vezes com velas), são as actividades para os aventureiros.

Neste momento que escrevo estas memórias, são 22h30 de uma noite deliciosa, encontro-me sentada num pequeno deck de madeira, em frente ao rio, na companhia do cantar dos grilos e rodeada de um grupo que assiste a um viajante com viola na mão e um vozeirão além-rio. 

Como brinde, não posso deixar de partilhar um piropo de um guia guatemalteco:

"Tienes un corazón muy fuerte, los chicos se vienen a ti.
Quieres ser mi Eva?
Nosotros, guatemaltecos, somos pequeños, pero tenemos Essencia!
Lo que me molesta es que los hombres de Guatemala son muy románticos y carinosos, pero las mujeres de fuera piensan que estamos con todas.
Te digo, como hombre que soy, eres muy especial.
Bueno, te doy hasta mañana para que te decidas.
Estaré te esperando, corazón."

Semuc Champey, 27 de Julho 2012