É preciso mover (Fevereiro 2013)



É preciso mover.

Depois de ano a correr mundo, desembarquei na minha ilha.

Santo Antão lá estava, como sempre, à minha espera.

Mas desta vez ela não sabia que eu chegava (ainda) mais atenta à sua simplicidade e autenticidade.

Ia com muito mais sede de nutrir-me do que das outras vezes.

Todos os meus sentidos iam apuradíssimos.

A minha máquina fotográfica disparava sozinha. Por vezes atrapalhava-se entre dilemas de captar sorrisos magnetizantes das crianças, olhares penetrantes dos graúdos, actividades do dia-a-dia ou paisagens que cortam a respiração.

Das caminhadas, nem falo.

Subir montanhas a pique e estacionar num nível acima das nuvens, onde até os excrementos da senhora vaca, com as nuvens como pano de fundo dão arte.

Descer vales generosamente verdes, com bananas, papaias e canas a cumprimentar-nos.

Almoçar em casa de gentes que não se conhece e que nos convidam a entrar e saborear os produtos que têm um sabor especial e que foram colhidos dali mesmo.

Passar por um trapiche e beber calda de cana, retirada na hora.

Conversas sábias e viciantes com graúdos, alguns deles quase a atingir a centena.

Fazer o caminho que a minha avó fazia frequentemente entre as duas casas/terras, em duas horas e meia a subir a pique (quando os locais o fazem em pouco mais de uma hora), não tem preço.

Muito mais haveria por dizer.

Mas o principal: depois de nos deslumbrarmos com as maravilhas espalhadas por aí, "dos outros", apuramos os sentidos para apreciar ainda mais as nossas raízes.

É preciso mover.

É preciso voltar.


Santo Antão, 23 de Fevereiro 2013

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